sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

A minha religião é a certa!

Título original: As “certezas” da fé


Por Esdras Gregório

Engraçado! Como eu sou sortudo! De milhares e milhares de religiões e filosofias nesta terra, eu por eventualidade do meu nascimento (ou “escolha” adulta) pertenço à única verdadeira.

Quando eu nasci, os meus pais me disseram que a nossa religião era a única correta. E quando eu cresci, os líderes dessa nossa religião me disseram que as outras eram todas falsas e me “provaram” isso, me mostrando
um monte de versículos retirados da bíblia.

Aí eu fico pensando, como são inocentes e ingênuos os adeptos das outras religiões, que acreditam que as suas religiões são verdadeiras, porque os seus pais os ensinaram assim; e os seus líderes os convencem disso, mostrando a veracidade das suas religiões através de um apanhado de trechos dos livros sagrados.

Mas, mais engraçado ainda é que se eu entrar numa igreja, sinagoga paróquia, mesquita, salão de reunião religiosa ou em qualquer comunidade de qualquer religião, eu ouvirei deles que eles é que são que ensinam a verdade. Mas eu continuo acreditando na minha, porque meus líderes ensinam com convicção.

Sinceramente! Pensar nestas coisas me deixa perturbado, porque isto me faz ter duvidas. Há um tempo atrás eu pensava; a minha religião é realmente verdadeira, porque nela existem testemunhas e relatos de “milagres” sobrenaturais; mas daí, analisando as outras, eu percebi que nelas também há “milagres”, mas meus educadores disseram que os milagres deles eram falsos (ou do demônio).

E para piorar a minha situação, eu descobri que a credulidade e as convicções dos adeptos das outras religiões são tão fortes como a nossa. Ou talvez até mais; porque eles fazem sacrifícios que só teriam coragem de fazer, aqueles que têm fortes convicções e paixão pela sua religião.

Mas vamos deixar isso quieto. Pelo menos a minha religião é a única que pode transformar um homem mau, num homem de bem; mas tem pessoas em outras religiões que acreditam na veracidade da mesma, porque alguns dentre eles eram ladrões, drogados, indigentes, delinqüentes e outras coisas e se tornaram cidadãos honestos, piedosos e normais.

Se de fato a minha religião é que é a verdadeira, pensar na felicidade da minha sorte me faz pensar na infelicidade da má sorte de muitas pessoas. Pense comigo; crianças nascem no mundo em diversas religiões, e na maioria delas, o ensino consegue, com poder (tirania do dogma) quase irresistível de coação, (medo do inferno, censura, exclusão) convencê-las da verdade das suas religiões.

Ou então pense naquelas pessoas que no seu desespero, abraça a primeira religião que aparece na sua frente, oferecendo uma solução. Ou naquele que parte do ponto zero, para busca da verdadeira religião, sendo ele um ser humano limitado em seu conhecimento do mundo e limitado, na possibilidade da compreensão do mesmo, em busca da verdade, num mundo de complexidade religiosa desconcertante.

Se existe uma única verdade, quem poderá encontrá-la? Quem dentre vós, os que a buscam, poderá acha - lá? Como o homem finito, alçará asas para alcançar o infinito? E como o homem cujos pensamentos e opiniões, estão sujeitos a sua experiência particular de vida, poderá conhecer a verdadeira religião, que por verdadeira deve ser objetiva.

O homem é fruto do meio em que vive e escravo da influência que atua sobre ele com mais força. Ele cede do lado em que a pressão é mais forte; seja as pressões das suas paixões e desejos, ou a pressão de sua consciência religiosa. Cada homem, cada indivíduo, nasce num mundo em que ele em nada contribui para ser o que é. As influências do seu temperamento e propensões, e das experiências particulares formam a relatividade das suas convicções e opiniões.

Como o homem poderá conhecer a verdade, num mundo de gritantes contradições? E como alguém em particular poderá afirmar com tanta certeza, contra as certezas dos outros, que ele encontrou a verdade, e que buscou a verdadeira religião e a achou?

Se existe um Deus verdadeiro, é Ele que tem que nos encontrar, mas sendo a subjetividade humana o único canal de contato possível, Ele só será sentido como verdade que se irrompe no fundo do nosso ser, sem que se possamos ter provas cabais de sua veracidade como fato objetivo inequívoco e incontestável.


Fonte: Cristianismo a-religioso

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